terça-feira, 8 de junho de 2010

A piedade ao Sagrado Coração de Jesus


A Piedade Cristã
Card. D. Eugênio Sales

Várias são as maneiras de revelar sentimentos como também de transmitir conceitos. Assim o símbolo é uma espécie de linguagem viva, meio de comunicação entre os homens. Sempre existiu e existirá.

Neste mês de junho, a piedade cristã dedica especial atenção ao Sagrado Coração de Jesus. No plano natural, esse órgão significa um centro, algo de essencial, cuja destruição redunda necessariamente na morte do ser criado. Além disso, ele mostra a índole do indivíduo: ódio ou amor, coragem ou covardia, vingança ou perdão. Essa concepção está subtendida quando falamos da devoção a que nos referimos. Nos domínios da Fé, descobre o extraordinário tesouro da bondade divina que é manifestada na vida do Redentor.



Nas famílias, locais de trabalho, estudo e lazer, nas cidades, cresce de forma angustiante a necessidade de ser valorizada a convivência humana, sua importância em favor do bem-estar coletivo.

Os conceitos de generosidade, dignidade, nobreza são indispensáveis ao relacionamento entre pessoas. Eles brotam de um coração bem formado, simbolizado por este órgão vital. Os maiores crimes podem ter origem em uma inteligência brilhante, jamais um caráter ilibado induz alguém ao mal.

Algum tempo atrás, foi noticiado um fato que revela o grau de insensibilidade moral e o nivelamento aos irracionais, com seus instintos mais aviltantes. Um jovem doente ameaçava jogar-se do alto de um edifício. Logo formou-se uma pequena multidão. Em um grupo, havia desaparecido os sentimentos mais nobres, pois açulava, estimulava o pobre enfermo a praticar o suicídio que, aliás, veio a acontecer. E alguns bateram palmas.

Cada um desses participantes responde, em parte, diante de Deus, por essa morte. Eles manifestaram algo de profundamente negativo. Tal ocorrência, bastante deprimente, nos deve questionar como membros desta comunidade. Faz-nos também refletir sobre esta passagem da Sagrada Escritura: “Tirarei de vosso corpo o coração de pedra e vos darei um outro de carne” (Ez 36,27). Somente assim muitos problemas poderão ser resolvidos.

No plano sobrenatural, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus abre grandes perspectivas ao crescimento religioso. São João, em seu evangelho (19,34) registra um fato que vem revelar a fonte da vida: “Um soldado transpassou o lado com a lança e no mesmo instante saiu sangue e água”.

No Antigo Testamento, Isaías (12,3) explica a origem de sua confiança e tranquilidade: “com alegria tirareis água das fontes da salvação”. Sendo esse líquido indicativo da existência e vitória sobre a morte, Ezequiel (47,9) prevê o tempo em que Deus fará jorrar torrentes capazes de garantir a sobrevivência de todos os seus filhos. Dentro desse contexto bíblico, São João, no texto acima citado, nos quer ensinar que o Redentor é o verdadeiro manancial. Pela sua crucifixão fez surgir a salvação do mundo.

Do mais íntimo do seu ser vem a manifestação do amor de Jesus. A lança abre o símbolo visível dos sentimentos que levaram o Salvador a morrer por nós. Amou-nos até ao sacrifício supremo para que vivêssemos eternamente.

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus não se limita apenas a uma parte de Seu corpo. Ela anuncia no filho da Virgem um homem concreto, vivendo em um período da História. Confessamos sua angústia, seu afeto, sua fidelidade ao plano redentor, proclamamos a raiz da Missão Salvífica. Essa prática espiritual nos introduz na profunda e incomparável intimidade do Verbo com o Pai. Cristo se doou integralmente. A obediência que O levou ao Calvário não enfraqueceu esse laço de união: “substancialmente vive a plenitude de Deus” (Cl 2,9).

Em uma época de tanto egoísmo, é frutuoso perscrutar a personalidade singular do Mestre. Ele é solidário com os homens mesmo que sua dedicação resulta em fracasso. E da íntima comunhão com quem o enviou adquire forças e grandeza para orar pelos que o ultrajam e matam (Lc 23,34).

Essa veneração é extraordinariamente rica para nós, pois o sinal nos fala do nosso perdão, do sangue derramado para nos remir. Recorda ainda o centro do Universo.

A ciência dos homens e a vaidade dos cristãos que se julgam doutos, jamais poderão perceber as belezas de atos religiosos aparentemente plenos de simplicidade.

Deus se revela aos pequenos e entre eles, principalmente, estão os devotos do Sagrado Coração de Jesus. Com Sua entronização nos lares, o Apostolado da Oração, o novenário, as festas piedosas fazem mais pela Igreja que muitos instruídos, pois, no Coração aberto pela lança, veneram e adoram o amor do Pai, que entregou por nós Seu próprio Filho para que pudéssemos viver (cf. Rm 8,31-34). Outorgou com esta doutrina o segredo de ordenar este mundo tão cruel por estar distanciado do Evangelho. Abriu perspectivas eternas a todos os seus filhos. Além disso, com o insistente apelo a aceitar seu jugo, que é suave e seu peso que é leve (Mt 11,28), nos proporcionou os meios para que possamos atingir a fonte da água viva.

Fonte: http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=3558&sid=78

http://www.veritatis.com.br/doutrina/meditacoes/624-a-piedade-crista

domingo, 6 de junho de 2010

Retornando...

Oi gente!Me perdoem os 2 meses em falta nas postagens,mas prometo me redimir com muito material bom que eu tenho encontrado.
Enquanto vou quebrando a cachola e rezando para escrever para vocês,vou repassar algumas formações sobre a Eucaristia (afinal passamos pelo Corpus Christi) e também sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus (que celebraremos na próxima sexta).

Boa leitura!!
Deus abençoe!

Corpus Christi: como a igreja é eucarística


Celebrar a solenidade do Corpo de Cristo é, acima de tudo, experimentar uma nova graça que é dada ao se unir a Jesus na Eucaristia. O ato de Comungar faz-nos dispor inteiramente para sermos todos de Deus, e isto é possível porque nos unimos ao corpo, sangue, alma e divindade de Cristo. Eis a mais esplêndida experiência de amor e felicidade que o homem pode vivenciar! Na Eucaristia, não só antecipamos o céu em nossas vidas, mas também nos unimos com o céu quando nos deixamos configurar com uma nova vida em Cristo: “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.”

Nas palavras do Santo Padre na homilia do ano passado (2008), na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, nos indica a profundidade do sentido que é dado nesta solenidade: “A própria celebração que estamos a realizar no-lo diz, no desenvolvimento dos gestos fundamentais: antes de tudo reunimo-nos em volta do altar do Senhor, para estar na sua presença; em segundo lugar faremos a procissão, isto é, o caminhar com o Senhor; e por fim, o ajoelharmo-nos diante do Senhor, a adoração, que já inicia na Missa e acompanha toda a procissão, mas tem o seu ápice no momento final da bênção eucarística, quando todos nos prostraremos diante d'Aquele que se inclinou até nós e deu a vida por nós.”

“A Igreja faz a Eucaristia, mas também a Eucaristia faz a Igreja” (Henri de Lubac). Como é possível compreender isso? A Igreja e a Eucaristia parecem se confundir diante dessa união íntima. Ora, a verdadeira natureza da Igreja não se manifesta nas estruturas hierárquicas e nem no dogmatismo teológico, mas na própria celebração da Eucaristia. A Eucaristia realiza a unidade da Igreja. “O Corpus Christi recorda-nos antes de tudo isto: que ser cristãos significa reunir-se de todas as partes para estar na presença do único Senhor e tornar-se n'Ele um só” (BENTO XVI).

Por isso, podemos dizer que na Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo celebramos a mais plena união do Esposo com a Esposa, pois é na Comunhão Eucarística que Jesus une-se de forma plena com a Igreja, ou seja, com cada fiel que professa e vive a fé do Corpo de Cristo. Por isso, desta união, o próprio Cristo nos indica o caminho que devemos percorrer: “A Eucaristia é o Sacramento do Deus que não nos deixa sozinhos no caminho, mas se coloca ao nosso lado e nos indica a direção. Ele mesmo se fez "via" e veio caminhar juntamente conosco, para que a nossa liberdade tenha também o critério para discernir o caminho justo e percorrê-lo” (BENTO XVI).

Em um profundo entendimento acerca da concepção da Eucaristia, Santo Inácio de Antioquia nos ensina que: “Cuidai de participardes de uma só Eucaristia, porque há uma só carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só cálice para a união com seu sangue, um só altar, como um só bispo com os presbíteros e os diáconos, meus companheiros de serviço”. Enfim, a unidade da Igreja é manifestada em sua realidade específica e objetiva quando os fiéis se reúnem em torno do Bispo “no mesmo lugar”, para receberem a comunhão do único pão e do único cálice.

Algumas considerações cabem ainda sobre o “Corpo de Cristo”, no qual nos ensina Agostinho que a Eucaristia cria a Igreja: “É o mistério de vós mesmos que é colocado sobre a mesa do Senhor; é o mistério de vós mesmo que recebeis. É ao que sois que respondeis Amém e ao que por vossa resposta aderis. Com efeito, quando ouvis as palavras “Corpo de Cristo”, respondeis Amém. Sede membros do Corpo de Cristo, para que esse amém seja verdadeiro” (Sermão 272). Somos nós, os fiéis, que somos oferecidos e consagrados na Eucaristia: “Vós está lá, na mesa, vós está lá, no cálice” (Sermão 229). Pela comunhão do corpo eclesial: “Se receberdes, sois o que recebestes” (Sermão 227). O Corpo de Cristo, a Igreja, se oferece, portanto, para se tornar o Corpo de Cristo sacrificado, o sacramento: “Eis o sacrifício dos cristãos, esse corpo único, que nós, muitos, formamos em Cristo (Rm 12,5); é o sacrifício que a Igreja celebra no sacramento do altar, tão conhecido dos fiéis; por ele mostra-se à Igreja que, ao oferecê-lo, é também oferecida a Deus” (A Cidade de Deus 10, 6).

Para concluirmos essa breve reflexão acerca do mistério Eclesiológico da Eucaristia, tomemos o Evangelho no qual narra a instituição da Eucaristia: “Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu aos seus discípulos dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo.” Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele o beberam. E disse-lhes: “Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos. “Em verdade vos digo: já não beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o beberei de novo no Reino de Deus” (Mc 14, 22-25).

“Adorar o Corpo de Cristo significa crer que ali, naquele pedaço de pão, está realmente Cristo, que dá sentido verdadeiro à vida, ao imenso universo como à menor criatura, a toda a história humana e à existência mais breve. A adoração é a oração que prolonga a celebração e a comunhão eucarística na qual a alma continua a alimentar-se: alimenta-se de amor, de verdade, de paz; alimenta-nos de esperança, porque Aquele diante do qual nos prostramos não nos julga, não nos esmaga, mas liberta-nos e transforma-nos”.

Cristo oferece o seu Corpo e Sangue como penhor da glória futura: eis a antecipação das Bodas do Cordeiro! Que a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo possa em cada um de nós gerar um coração adorador e o ser Igreja, para que a comunhão Eucarística represente de forma viva e eficaz a união esponsal que transborda numa oferta de vida configurada em Cristo.


Márcio André Teixeira Barradas
Consagrado da Comunidade Católica Shalom
Assessoria Litúrgico-Sacramental